Foto: Agência Brasil
O deputado Jair Bolsonaro, pré-candidato à Presidência pelo PSL, desqualificou nesta sexta-feira o memorando da CIA que sugere que o ex-presidente general Ernesto Geisel soube e autorizou a execução de mais de uma centena de opositores políticos durante ditadura militar. Segundo ele, o ex-diretor William Egan Colby fez o relatório sem base comprovatória e questionou: “Cadê os 104 mortos?”.
— Quantas vezes você falou ali num canto que tem que matar mesmo, tem que bater, tem que dar canelada…Talvez esse cara tenha ouvido uma conversa como essa e fez o relatório e mandou. Agora, cadê os 104 mortos? — disse o parlamentar em entrevista à “Rádio Super”, de Minas Gerais.
Bolsonaro, que é capitão da reserva e defende o período da ditadura militar, disse ainda que a divulgação do documento tinha relação com sua pré-candidatura e comparou a acusação a mais uma polêmica sobre a disputa eleitoral:
— Voltaram a carga, né. Um capitão está para chegar lá, é o momento. Olha, foi um memorando de um agente, que a imprensa não divulgou. É um historiador que diz que viu, mas não mostrou. Tem que matar a cobra e mostrar o pau. Eu respondo de forma simples: quem nunca deu um tapa no bumbum de um filho e depois se arrependeu — disse, mais uma vez desqualificando o documento norte-americano.
GEISEL AUTORIZOU EXECUÇÕES, DIZ CIA
O memorando revela um encontro em 30 de março de 1974 entre Geisel com o general Milton Tavares de Souza e com o general Confúcio Danton de Paula Avelino, respectivamente os chefes de saída e chegada do Centro de Inteligência do Exército (CIE), à época. No encontro, também estava o general João Baptista Figueiredo, chefe do Serviço Nacional de Inteligência (SNI). Figueiredo, inclusive, sucedeu Geisel na Presidência em 1979.
Durante o encontro, segundo o documento, o general Milton Tavares de Souza, que estava deixando a chefia do CIE, informa a Geisel sobre a execução sumária de 104 pessoas feita pelo CIE durante o governo do presidente Emílio Garrastazu Médici, e pede autorização para continuar a “política” de extermínio no novo governo.
Bolsonaro disse ainda que as Forças Armadas evitaram que o Brasil tivesse uma guerrilha dentro do país como as Forças Armadas Revolucionáras da Colômbia (Farc) no Brasil.
— A questão da guerrilha do Araguaia. Ah, mataram 69. Esse pessoal foi para aquela região não foi à toa. Eles ocupavam lugares pobres para esse tipo de revolução. Se tivéssemos agido como a Colômbia, com humanismo ao tratar esse foco de guerrilha no coração do Amazonas, conhecido como guerrilha do Araguaia, nós teríamos no coração do Brasil uma Farc. E graças aos militares daquela época não temos uma Farc no coração do Brasil — argumentou.
Em nota divulgada na noite de quinta-feira, o Exército Brasileiro afirma que os documentos relativos à atuação do CIE e de outros órgãos no Brasil não existem mais, e que por isso não pode confirmar a veracidade dos fatos contidos no documento da CIA.
“O Centro de Comunicação Social do Exército informa que os documentos sigilosos, relativos ao período em questão e que eventualmente pudessem comprovar a veracidade dos fatos narrados, foram destruídos, de acordo com as normas existentes à época — Regulamento da Salvaguarda de Assuntos Sigilosos (RSAS)”, diz a nota.
O Globo
Powered by WPeMatico