por Dinarte Assunção
A primeira vez que o cabo da PM Marcelo Ribeiro precisou de ajuda para colocar comida em casa, relatou, esperava que fosse algo pontual. Tinha a crença de que logo os salários estariam regularizados e aquela sensação de impotência, de derrota, jamais voltaria a se repetir, o que não aconteceu.
“As coisas começaram a piorar da metade do ano passado para cá”, relatou o cabo ao Blog do BG.
Cada vez que amigos chegavam para doar um quilo de arroz ou feijão, Marcelo se sentia vencido. “Eu achava que aquela sensação era a pior coisa que eu poderia experimentar para mim e minha família”, descreveu o policial, até que sobreveio a primeira das madrugadas que lhe tem devastado.
“Eu tenho dois filhos, gêmeos de 13 anos. Um dia, no meio da noite, eles acordaram sem conseguir dormir. Estavam com fome. Não tinha nada para comer”.
Foi a sensação mais desoladora, descreveu o PM, desde novembro de 2015, quando os salários do servidores do Executivo começaram a atrasar.
“Como seria para você isso? Imagine que você trabalha o mês inteiro e tem que se deparar com seus filhos, de madrugada, com fome. E não há nada que você possa fazer porque você não tem nem comida nos seus armários? Como lidar com isso? Foi ali que eu me senti o maior dos derrotados”, desabafou Marcelo.
Para evitar esse cenário, o policial conta com o que tem. E não é muito. “Às vezes, comemos pipoca à noite e tomamos água para dizer que não estamos indo dormir sem comer nada. Meus filhos já perderam três quilos”, revela o policial.
Com cartão de crédito bloqueado, a única fonte de recursos imediata passou a ser o dia em que seu salário cai na conta. “Hoje foi pago. Mas vai ser usado tudo para pagar dívidas”, relata.
No domingo, véspera de Natal, não haverá ceia. “Vamos ver como será. Se vamos para casa de amigos ou se ficaremos em casa. Não sei. Estamos vivendo um dia de cada vez”.
Cientes da situação, os gêmeos, que são atletas e perderam rendimento pela falta de alimentação, se dispuseram a ajudar.
“Vieram oferecer os telefones e o computar para que eu venda. Não posso fazer isso, você entende? Não posso tirar dos meus filhos para colocar comida dentro de casa. Eu só quero o que é meu por direito. E não queria estar passando por isso. Não queria”, lamenta Marcelo
Powered by WPeMatico
