1968: A campanha que Dr. Chiquinho vence Manoel Torres na disputa pela prefeitura de Caicó

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O tempo e a história nos mostram que se tem uma coisa que os eleitores caicoenses não podiam reclamar na memorável campanha eleitoral de 1968 era a qualidade dos candidatos que disputaram naquele ano a prefeitura de Caicó. Disputaram o pleito nada mais nada menos que Manoel Torres de Araújo e o advogado Francisco de Assis Medeiros (Chico Burra Cega), Dr. Chiquinho venceu o pleito.

O livro escrito pelo, hoje conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, Renato Dias, nos relata a construção destas candidatura e o pleito:

Nas eleições de 1968, havia entre a população um sentimento de medo, devido aos acontecimentos recentes de assassinatos por encomenda, como o do deputado estadual Carlindo Dantas.

O advogado Francisco de Assis Medeiros, do sistema político de Dinarte Mariz, surge como candidato, tentando ocupar o espaço deixado por Carlindo Dantas, com quem tinha amizade e lhe defendeu na Justiça em acusação de homicídio. A candidatura foi um consenso dos amigos de Carlindo Dantas, segundo Dr. Chiquinho. “Nossos correligionários se reuniram após a morte de Carlindo. Fizeram uma reunião e escolheram o meu nome como candidato a prefeito”.

Desde jovem, Francisco Medeiros atuou em campanhas políticas ao lado de Dinarte Mariz, Djalma Marinho, Milton Marinho, Dr. Gomes e outros. O que mais pesou na escolha do nome de Chiquinho como candidato a prefeito foi a ligação que tinha com Carlindo Dantas. “Fui advogado dele em todas as circunstâncias, não só naqueles episódios mais marcantes, como em episódios menores. Carlindo era uma pessoa que sempre me escolhia para a defesa das coisas dele”.

Francisco Medeiros lembra que a campanha política de 1968 era uma manifestação tipicamente popular, sem esquema de marketing, planejamento e estrutura. Quem fazia a campanha era o povo, que marcava os comícios e escolhia os locais, juntamente com Darcy Fonseca, que coordenava a campanha de rua.

Dr. Chiquinho relata que os fazendeiros solicitavam comícios na zona rural e, quando ele retornava à cidade, já havia três, quatro comícios marcados e não encontrava dificuldades em abordar os temas de interesse da população.

O que Francisco Medeiros acha muito interessante é que a campanha política foi muito viva, exaltada, mas não houve uma demanda judicial, uma reclamação na Justiça Eleitoral de nenhum lado. Por incrível que pareça, a justiça eleitoral não teve muito trabalho.

Os programas eleitorais no rádio de Dr. Chiquinho eram todos de improviso. De acordo com a marcha da campanha, ia tratando das questões emergentes e do que pretendia fazer.

A linha dos discursos de Francisco Medeiros, na sua avaliação, foi programática, com duelo verbal entre os dois candidatos que disputavam a eleição. A disputa nos programas de rádio eram complementadas pela participação de poetas que declamavam poemas e faziam paródias, sem nenhuma organização da empresa.

“Nós virávamos a sexta-feira à noite, o sábado, o domingo todo, organizávamos nossas passeatas, de forma que, na hora do programa eleitoral, ia passando na frente da rádio, fazia o programa e prosseguia, não tinha nada gravado, nada preparado”, analisa Chiquinho.

Nos seus discursos, empunhava a bandeira de Carlindo Dantas e criticava a assistência médica do município, que para ele era muito precária. O hospital do Seridó funcionava parcialmente. Controlado pelo SESP, tinha apenas um médico, e a metade do hospital era fechado, funcionando apenas uma ala, sem internamento.

A mensagem nos discursos era de facilitar a saúde do povo, combater o crime organizado, que estava imperando no município, e melhorar a educação, chegando a ponto de sonhar com a implantação da faculdade.

O locutor da campanha de Dr. Chiquinho era Samuel Fernandes, que já tinha atuado na campanha para deputado estadual de Carlindo Dantas. “E os oradores eram nós mesmos: eu, Adjuto Dias, Delmiro Saldanha, Nélson Queiroz, que era candidato a prefeito de Jucurutu, e apareciam aqueles populares que chegavam lá e falavam”.

A campanha de Dr. Chiquinho contou com três ou quatro comícios grandes, entre eles, o que contou com presenças de Dinarte Mariz, Grimaldi Ribeiro e Dari Dantas, no dia 28 de outubro, no aniversário de morte de Carlindo. Tornou-se o grande evento da campanha.

Dentre as atrações, Dr. Chiquinho relembra a figura de “Gréa”, que se apresentava com violão, cantando estilo Roberto Carlos nos comícios. Um episódio que marcou a campanha foi um encontro de passeatas na rua Quintino Bocaiúva, que Dr. Chiquinho taxa de “chuva de pedras”. “Uma passeata nossa entrou pelo lado da avenida, e a passeata do adversário pelo outro lado. E as passeatas findaram mergulhando uma na outra. A arma que foi usada foi pedra; aquela rua parecia assim uma chuva de pedra, um lado atirando pedra sobre o outro. Por incrível que pareça, não houve ferimentos, apenas muitos desaforos. Foi um episódio que marcou a campanha”.

Francisco de Assis Medeiros ficou conhecido como “Chico Burra Cega”. No dia 26 de janeiro de 1968, ao dirigir-se ao seu escritório de advocacia, na Praça da Liberdade, deparou-se com uma cena inusitada. Uma jumenta cega, magra, estropiada, estava no coreto da praça. De uma caixa de papelão fora improvisada uma cangalha que se encontrava amarrada ao dorso do animal. Com tinta vermelha via-se escrito em ambos os lados da cangalha: “Burra Cega”. Com populares ele conseguiu tirar o animal da praça.

O assunto virou tema da campanha, sem que nunca se descobrisse quem montou tal episódio. Nos comícios, quando Chiquinho falava, os eleitores afirmavam: “A burra falou e disse!”.

Dr. Chiquinho disse que a única relação que pode ser estabelecida ao fenômeno “burra cega” remonta ao início dos anos 50, quando, aluno do curso científico do Atheneu, morou na Casa do Estudante de Natal. Os colegas descobriram que Chiquinho só enxergava por um olho e passaram chamá-lo de “Chico Cego”.

O pleito de 1968 foi presidido pelo juiz Manoel de Araújo Silva. Em 41 urnas, Francisco de Assis Medeiros obteve 4.671 votos. Seu candidato à vice foi o odontólogo Vicente Macedo Neto. Manoel Torres de Araújo conseguiu 4.595 votos, juntamente com seu companheiro de chapa, Severino Fernandes. Chico Burra Cega ganhou com uma diferença de apenas 76 votos.

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