O coordenador da Força-Tarefa da Operação Lava Jato no Paraná, o procurador do Ministério Público Federal (MPF) Deltan Dallagnol, afirmou em entrevista coletiva na tarde desta quarta-feira (19) que a decisão do ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), “consagra a impunidade”.
O ministro do STF determinou a soltura de todos os réus presos condenados em segunda instância com recursos pendentes.
Dallagnol disse que a decisão é equivocada e viola o princípio da estabilidade das relações jurídicas.
“Nós entendemos que essa decisão contraria o sentimento da sociedade que exige o fim da impunidade. Ela, na verdade, consagra a impunidade violando os precedentes estabelecidos pelo próprio STF”, afirmou.
Para ele, o entendimento do ministro vai na direção contrária do “espírito de fim da impunidade, que hoje inspira a sociedade brasileira”.
“Essa decisão nos pegou de surpresa. Foi tomada às vésperas do recesso, violando o princípio da colegialidade, no momento em que torna difícil buscar possibilidades de revisão, fugindo completamente dos parâmetros, de modo isolado dentro do STF, que quebra a estabilidade das decisões do próprio Supremo, o esquema de precedentes”, disse o coordenador.
O procurador disse que para a força-tarefa foi uma “decisão isolada de um ministro do STF”. “Nós não entendemos essa decisão como da instituição STF. Existe uma da instituição que está vigendo e que autoriza a prisão após condenação em segunda instância”, explicou.
Efeitos para a Lava Jato
Nas contas dos procuradores, hoje há 35 réus da Lava Jato presos após julgamento em segunda instância. Eles não souberam informar, porém, quantos deles estão presos preventivamente, o que poderia impedir a soltura.
Conforme Dallagnol, o caso vai além do caso do ex-presidente Lula. Ele disse que confia que a Procuradoria-Geral da República agirá para reverter a decisão.
“Nossa posição é de que a decisão tem impacto múltiplo, atinge inúmeras pessoas, e o caso Lula é importante, mas é uma ilustração de uma decisão que tem efeitos catastróficos sobre a eficiência da Justiça penal em todo o país”, afirmou Dallagnol.
A defesa de Lula requisitou à Justiça Federal do Paraná a expedição de alvará de soltura minutos depois da divulgação da decisão do ministro do STF.
Segundo ele, a questão envolvendo a execução provisória da pena atinge a possibilidade de realizar investigações por meio de colaborações premiadas, consideradas pelo procurador como “instrumento essencial de investigação de organizações criminosas”.
“Quando não existe execução provisória da pena em relação a réus de colarinho branco, não existe perspectiva de punição. E quando não existe perspectiva de punição, ninguém colabora com a Justiça”, avaliou.
Para o procurador, isso afeta a existência da Operação Lava Jato não apenas em resultados, mas como modelo de investigação para o futuro.
“Nós estamos sinceramente, um pouco cansados de tantas decisões que significam reviravoltas no mundo jurídico e que atrapalham a condução das nossas investigações. Nós desejamos um sistema que é o mesmo sistema que a sociedade deseja: com estabilidade, previsibilidade, um sistema necessário para o desenvolvimento dos negócios no país, desenvolvimento econômico e social”, disse Dallagnol.
G1
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