Apesar da boa campanha do Santos no segundo turno do Campeonato Brasileiro, o clima entre Cuca e José Carlos Peres não é dos melhores. A reportagem apurou que, após a dupla trocar farpas na imprensa, o treinador tem algumas insatisfações com o presidente. A principal delas, segundo pessoas ligadas ao técnico, é que o dirigente não cumpre suas promessas.Internamente, Cuca já admitiu que não descarta deixar o Santos após o término desta temporada.
O treinador tem vínculo até o fim do próximo ano, mas está insatisfeito com o presidente santista e não tem cláusula de rescisão no contrato. Até publicamente o técnico não quis confirmar que ficará para 2019. “Eu tenho contrato até 2019, vamos pensar nesse ano que é o mais importante. Ano que vem a gente não sabe nem se estará vivo”, disse.
O estopim foi um “bicho”, premiação por vitórias ou objetivos alcançados, não pago à comissão técnica após o clássico contra o Corinthians no último dia 13, válido pela 29ª rodada do Campeonato Brasileiro, vencido pelo Santos por 1 a 0, com gol de Gabigol.Após um pedido de Cuca antes do jogo, o presidente santista havia prometido pagar o prêmio ainda no vestiário do Pacaembu para atletas e comissão técnica. No entanto, somente os jogadores receberam a premiação.
A turma de Cuca alega não estar preocupada com o dinheiro, mas insatisfeita com promessas não cumpridas pelo dirigente. A diretoria santista, por sua vez, alega que a premiação foi prometida nos vestiários somente aos atletas e que o “bicho” da comissão técnica será pago por meio da folha de pagamento. Segundo eles, o gerente de logística, Sergio Dimas, precisa enviar a planilha para isso, fato que não ocorreu.
O grupo de Cuca ainda ressalta que premiações atrasadas e problemas com pagamentos ao elenco já ocorreram mais uma vez desde a sua chegada. O treinador tem o perfil que briga por atletas e profissionais e, por isso, entra em rota de colisão com os dirigentes.
Se não bastasse, Peres criticou a escalação de Cuca publicamente na semana passada. O dirigente disse em reunião do Conselho Deliberativo que o meia Bryan Ruiz está jogando fora de posição e, por isso, não apresenta o seu melhor futebol. O treinador não deixou por menos e reprovou a atitude do mandatário em público.
“Só lamento pois eu sempre que coloco o jogador, coloco na posição dele. É um cara que a gente gosta [Bryan Ruiz], um baita profissional. Às vezes eu tenho outros gostos por estar aqui o dia inteiro. Eu lamento essas palavras do presidente, mas bola para a frente. Vamos lá”, disse.
Nessa terça-feira (23), na FPF (Federação Paulista de Futebol), Peres disse que já se entendeu com Cuca e até elogiou a preleção do treinador antes do empate contra o Internacional por 2 a 2 na segunda-feira (22), em Porto Alegre. Além disso, o dirigente ainda prometeu que montará o time que o treinador pedir para a próxima temporada.”Eu digo que essa relação é de família. O Santos é uma família. No segundo turno, somos o segundo. Se fossemos bem na primeira parte estaríamos entre os dois, três primeiros. Me entendi bem com Cuca. É sempre bem resolvido. Família é família. A relação é ótima. É um grande treinador, fez uma grande preleção ontem. Quanto mais você assiste mais você tem certeza. Ele manda no time. Vamos montar o time do Cuca. E ele vai ficar com a gente”, disse Peres.
O problema é que o treinador já deixou a entender que este projeto prometido pelo presidente santista ainda não foi iniciado. Questionado na última sexta-feira (19), no CT Rei Pelé, se participou da reunião entre Peres e outros dirigentes sobre o planejamento de 2019, Cuca foi irônico ao responder. “Eu faltei nessa aula”.
A relação entre Peres e Cuca começou a estremecer publicamente logo após a eliminação do Santos para o Independiente (ARG), na Libertadores. Na ocasião, Cuca disparou contra a diretoria pelo erro envolvendo a escalação irregular do volante uruguaio Carlos Sánchez. Ele disse que os dirigentes precisavam melhorar administrativamente.
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