O volume de água das duas principais bacias hidrográficas do Rio Grande do Norte atingiram, em fevereiro, o menor nível desde os anos 1980, quando foram inauguradas as barragens Armando Ribeiro Gonçalves (Itajá-1983), Santa Cruz (Apodi-2002) e Umari (Upanema-2002). A Bacia Apodi/Mossoró está hoje com 21,8% da capacidade total de armazenamento. A bacia Piranhas/Açu, a maior delas, acumula 519,6 milhões, 17,5% do total, segundo as últimas medições da Secretária de Recursos Hídricos.
As duas bacias são responsáveis pelo abastecimento de água de mais de 1 milhão de pessoas que moram no sertão potiguar, região que enfrenta o quinto ano seguido de seca ou de chuvas abaixo da média histórica, chamada “seca verde” pelos nordestinos.
Em entrevista no final de semana, o secretário estadual de Recursos Hídricos, Mairton França fala sobre o que está sendo feito para evitar o colapso no abastecimento de cidades como Caicó e como será o uso da água que se aproxima do volume morto na maior barragem do Estado, caso se confirmem as previsões de inverno abaixo da média este ano no Rio Grande do Norte.
O Governo tem um plano “C” para o abastecimento de Caicó, se não houver recarga dos açudes, considerando que o plano “B” seria a adutora de engate rápido? “O projeto da adutora de engate rápido está aprovado pelo Ministério da Integração Nacional, e vai captar água da adutora Serra de Santana. Estamos aguardando apenas que o dinheiro seja depositado e estamos prontos para começar a obra. Vai captar água da adutora Serra de Santana, e por ser uma obra emergencial, foi protocolado no Ministério em dezembro do ano passado. Isso é parte do Plano Emergencial de Segurança Hídrica, que temos, e custa R$ 336 milhões. Inclui, por exemplo, uma série de adutoras de engate rápido que poderão ser usadas no futuro.”
Caicó é a situação que mais preocupa? “Sim. Porque no momento que Caicó ficar sem nenhum plano para abastecimento de água são 61 mil pessoas sem água nas torneiras, e isso é extremamente preocupante. Estamos desde novembro com esse projeto aprovado, e temos R$ 44 milhões liberados. O custo provavelmente será menor, algo em torno de R$ 39 milhões, mas essa margem de sobra proporciona o uso de materiais com maior qualidade. É uma obra cujo prazo máximo é de seis meses. A perspectiva de Paulo Varela, diretor da Agência Nacional de Águas (ANA), é de que no segundo semestre não tenhamos mais água em Caicó. Significa que teremos de chegar a algum acordo a respeito de Coremas [na Paraíba]. Não podemos é deixar a cidade totalmente desabastecida enquanto a adutora estiver em construção. O que a ANA quer do Governo é a garantia de que a construção da adutora não ultrapasse os seis meses.
A obra pode parar se começarem as chuvas? Não esperamos chuvas, nem na média este ano. Vamos tocar esta obra mesmo embaixo de chuva.
E tem água suficiente na barragem — via adutora Serra de Santana — para interligar esse “ramal” de engate rápido até Caicó? Temos água na Armando Ribeiro Gonçalves, e em última instância a gente reduz ainda mais o uso para a irrigação. Veja, mais de 70% da água usada no Estado é para irrigação e produção em geral. Não somos contra a produção e todo o trabalho em fase de desenvolvimento é para garantir as duas coisas, pois se não houver produção, cai a arrecadação e aumenta por exemplo os índices de desemprego. A região do Baixo Açu representa 25% do PIB do Rio Grande do Norte. Há diversas culturas desenvolvidas nessa região.
