A teoria de que o pedido de impeachment de um governante feito pela população é golpe, entoada pelos representantes do Partido dos Trabalhadores (PT) no Rio Grande do Norte, só começou a valer quando a população foi às ruas pedir a saída da presidente Dilma Rousseff (PT). No passado, as mesmas lideranças já apoiaram movimentos que, segundo eles hoje, são golpistas.
Os petistas apoiaram publicamente os pedidos de impeachment da ex- prefeita Micarla de Sousa, em 2012, e da ex-governadora Rosalba Ciarlini (DEM), em 2014. Mesmo sem ter nenhuma condenação contra as duas, na época, os líderes do PT se embasaram nos baixos índices de popularidade das então gestoras para apoiar a saída de ambas, que foram eleitas, respectivamente, em 2008 e 2010.
Durante o auge da crise política e administrativa envolvendo a administração de Micarla, a juventude do PT participou ativamente do movimento intitulado “Fora Micarla”, que ocupou a Câmara Municipal de Natal. Na época único vereador da sigla na Casa, Lucena chegou a anunciar que pediria o impeachment da gestora, como mostra reportagem publicada no site institucional do PT de Natal:

O atual vereador Hugo Manso (PT), que na época estava sem mandato, também participou das manifestações contra Micarla. Em reportagem publicada pela imprensa, o vereador chegou a declarar que o movimento representava a “absoluta ruptura entre o povo e a gestão municipal”.
Micarla de Sousa não sofreu processo de impeachment, apesar da articulação dos petistas. No entanto, o movimento obteve êxito. Dois meses antes de terminar o mandato, a então gestora foi afastada pela Justiça por suspeita de irregularidades.
Com Rosalba, não foi diferente. O deputado estadual Fernando Mineiro (PT), principal crítico hoje dos movimentos que pedem a saída de Dilma, foi o único parlamentar a defender o impeachment da então governadora Rosalba Ciarlini (DEM). Na própria página do petista na internet, está a matéria que revela como ele tratou o assunto em abril de 2014:

Micarla de Sousa terminou a gestão com cerca de 90% de reprovação popular, segundo as pesquisas de opinião. O mesmo índice é foi registrado em relação a Rosalba no final da sua administração. Dilma Rousseff enfrenta hoje os mesmos índices. A aprovação da presidente é de apenas 7,7%, menos do que a inflação, que ultrapassou os 9%.
O agravante contra a petista, em comparação com Micarla e Rosalba, é que, além da desaprovação, as denúncias de corrupção azeitam a insatisfação. A presidente é acusada de crime de responsabilidade, ao praticar as chamadas “pedaladas fiscais”, que estão sendo analisadas pelo Tribunal de Contas da União. Além disso, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) investiga se a campanha de Dilma de 2014 foi financiada com dinheiro de propina da Petrobras, como aponta as investigações da Lava jato.
Os dois casos podem gerar embasamento para o afastamento de Dilma. O primeiro, crime fiscal, é o suficiente para embasar o pedido de impeachment. O governo já confessou a prática, mas tenta justificar. No segundo caso, o crime eleitoral pode resultar na cassação da chapa da presidente, que concorreu à reeleição no pleito do ano passado.
Por Allan Darlyson, Portal No Ar
