
As sustentações orais dos ministros do Supremo Tribunal Federal durante o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outros sete réus por tentativa de golpe de Estado revelaram contrastes de forma e conteúdo. Análise feita pela Folha de S.Paulo a partir da transcrição completa dos votos mostrou variações expressivas no uso de referências, linguagem e duração das apresentações. Alexandre de Moraes, relator do caso, usou o termo “organização criminosa” mais de cem vezes ao longo de seu voto, que durou 4h50.
Segundo apurou a Folha, a fala de Moraes superou em volume de palavras o romance “Iracema”, de José de Alencar. Ele utilizou ao menos 15 vezes o recurso da repetição para reforçar argumentos, especialmente ao parafrasear o ex-presidente. Foi também o ministro que mais citou nominalmente Bolsonaro.
Luiz Fux foi o único ministro a votar pela absolvição de Bolsonaro. Sua sustentação durou 11h30, superando obras como “Os Lusíadas”, de Luís de Camões. De acordo com a análise da Folha, ele citou ao menos 27 autores, entre juristas, filósofos e pensadores clássicos, e utilizou diversos termos em latim, como ratione personae, in dubio pro societate e cogitatio.
A sustentação de Fux foi alvo de indiretas de colegas. A ministra Cármen Lúcia comentou: “Trouxe impresso, mas não preciso ler, vou comentar”, e Flávio Dino brincou: “Se tem o voto eletrônico, não precisa de voto impresso, né?”. Cármen respondeu: “Gosto de papel e caneta”.
Cármen Lúcia adotou uma apresentação mais breve, com trechos de humor e críticas sutis. Citou o poeta Afonso Romano de Santana (“Que País É Esse?”), Vitor Hugo, Maquiavel e os historiadores Heloisa Starling e Carlos Fico. Ao conceder a palavra a Dino, comentou: “Seja breve, porque nós, mulheres, ficamos dois mil anos caladas, nós queremos ter o direito de falar”.
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